Associação da Doença Celíaca com Queda de Cabelo e outras Alterações Dermatológicas

Por Dra. Anaflávia Oliveira*

Percebo, frequentemente, que muitos não associam a doença celíaca as quedas capilares e outras alterações dermatológicas. Se você tem restricões quanto ao glúten, fique atento também a saúde de seu cabelo. Está caindo? Perdeu volume dos cabelos? Está ressecado, frágil ou diminuiu o crescimento?

Tenho participado de forma intensiva de grupos de estudos de tricologia, que é uma área da dermatologia que estuda as doenças do couro cabeludo e tenho percebido o quanto essa condição pode afetar além da pele, cabelos também (alopecias). 

Pode ocorrer nesses pacientes, com maior frequência que a polulação normal, tanto o Eflúvio Telógeno (queda difusa do cabelo) por alguma deficiência nutricional causada pela alteração da parede intestinal devido a presença do glúten, quanto a Alopecia Areata (popularmente chamada de pelada, ou seja, placas de alopecias no couro cabeludo) de origem auto-imune.  Na polulação normal, a incidência é em torno de 0.7-1% e nos celíacos sobe para 3.8% de casos dessa alopecia. Apesar dos avanços nos estudos, sua patologia não foi completamente desvendada e pesquisas avançam para novas descobertas sobre essa condição que afeta muito a qualidade de vida das pessoas. 

A doença celíaca ( DC ) que há poucos anos achava-se ser rara, grave em seus sintomas e com acometimento basicamente em crianças, mostrou nos estudos das últimas décadas ser uma doença relativamente comum,  atingindo cerda de 1-2 % população.

Pode iniciar na fase adulta e cursar com quadros  clássicos  (diarreia, fezes gordurosas, desnutrição, etc) quadros leves (muitos chegam ignorar os sintomas) , sintomas extra intestinais (pâncreas, pele, mucosas e etc) e até  assintomáticos (sem nenhum sintoma) e por isso, de difícil diagnóstico. Muitos apresentam a doença e não sabem. A resposta da inflamação ao glúten  provoca frequentemente danos a muitos outros tecidos do corpo, especialmente os de origem auto-imune. 

Recentemente, foram publicadas muitas pesquisas italianas mostrando a recente associação da DC com Alopecia Areata.

Motivos:

  • Ambas têm origem auto imune (desregulação de linfócitos T)
  • A alteração da permeabilidade da mucosa intestinal nos intolerantes ao glúten leva ao aumento na absorção de várias substâncias (antígenos) capazes de desencadear uma reação imunológica, causando a alopecia areata ( formação de anticorpos com a capacidade de destruir o folículo piloso )
  • O fato curioso é que os  pacientes relatados no estudo que não respondiam ao tratamento tradicional da alopecia, foram beneficiados com a dieta livre de glúten feita por meses. Começaram a repilar desde então (crescimento de fios no couro cabeludo) e esse fato mostra que não pode ser ignorada a forte relação entre as duas condições. 

Porém, ainda há divergências porque alguns trabalhos mostraram que certos indivíduos não responderam com a dieta livre de glúten.  Ainda não sabemos dizer  o porquê dessas diferenças nas respostas, mas já há justificativa considerável para iniciarmos a pesquisa de DC nos pacientes portadores de AA e se for o caso, pensar na possibilidade de exclusão do glúten nesses pacientes.

Outras doenças dermatológicas recentemente descritas como possivelmente associadas a DC foram: Dermatite herpetiforme, Urticária crônica, Angioedema hereditário, Vasculites, Dermatite atópica, Psoríase, Doença behcet, Líquen plano, Lúpus eritematoso, Dermatomiosite, Doenças bolhosas, Eritema nododo, Eritema elevatum diutinum, entre outros.

Quem tem alguma dessas condições, sugiro a triagem para doença celíaca também.

Ainda há muito mais informações sobre isso que poderemos discutir mais pra frente.

*A autora é médica com certificação Internacional da IAT( International Association of Trichologists ), membro da Academia Brasileira de Tricologia, Profa. Pós Graduação de Tricologia na Universidade Anhembi Morumbi e Instituto ELIGO, autora do blog “A cabeleira agradece…”. www.draanaflavia.com.br – Fan Page : Dra Anaflávia Oliveira.

Referências Bibliográficas:

  1. J. Paediatr. Child Health – (2003) 152–154, Coeliac disease and alopecia areata in childhood, S FESSATOU, M KOSTAKI and T KARPATHIOS, Second Department of Pediatrics, ‘P & A Kyriakou’, Children’s Hospital and Second Department of Pediatrics, University of Athens, Athens, Greece.
  2. Alopecia areata and Coeliac Disease: No Effect of a Gluten-Free Diet on Hair, Growth Maria Teresa Bardellaa Roberta Marinoa Mauro Barbareschib Fernando Bianchib Giovanni Fagliac Paolo Bianchia aIstituto di Scienze Mediche, bIstituto di Scienze Dermatologiche e cIstituto di Scienze Endocrine, IRCCS Ospedale Maggiore, Università di Milano, Italia. Received: August 4, 1999.
  3. Celiac Disease and DermatologicManifestations: Many Skin Clue to Unfold Gluten-Sensitive Enteropathy. Marzia Caproni,1 Veronica Bonciolini,1 Antonietta D’Errico, Emiliano Antiga,1, 2 and Paolo Fabbri1 – 1Division of Dermatology, Department of Medical and Surgical Critical Care, University of Florence, 50129 Florence, ItalyDepartment of Clinical Physiopathology, University of Florence, 50139 Florence, Italy. 
  4.  J. Paediatr. Child Health – (2003) 152–154, Coeliac disease and alopecia areata in childhood, S FESSATOU, M KOSTAKI and T KARPATHIOS, Second Department of Pediatrics, ‘P & A Kyriakou’, Children’s Hospital and Second Department of Pediatrics, University of Athens, Athens, Greece.
  5. Celiac disease – Luis Rodrigo, Gastroenterology Service, University Hospital Central Asturias, Oviedo, Spain. Service, Hospital Universitario Central de Asturias, c/ Celestino Villamil s. nº. 33.006. Oviedo, Spain.
  6. Current Concepts of Celiac Disease Pathogenesis, DETLEF SCHUPPAN, First Department of Medicine, University of Erlangen-Nuernberg, Erlangen, Germany.
  7. Cutaneous manifestations in celiac disease, World J Gastroenterol 2006 February 14; 12(6): 843-852 World Journal of Gastroenterology ISSN 1007-9327, L Abenavoli, I Proietti, L Leggio, A Ferrulli, L Vonghia, R Capizzi, M Rotoli, PL Amerio, G Gasbarrini, G Addolorato L Abenavoli, L Leggio, A Ferrulli, L Vonghia, G Gasbarrini, G Addolorato, Institute of Internal Medicine, Università Cattolica del Sacro Cuore, Rome, Italy I Proietti, R Capizzi, M Rotoli, PL Amerio, Institute of Dermatology, Università Cattolica del Sacro Cuore, Rome, Italy.
  8. The Many Faces of Celiac Disease: Clinical Presentation of Celiac Disease in the Adult Population, PETER H. R. GREEN Celiac Disease Center at Columbia University, Columbia University Medical Center, New York, New York GASTROENTEROLOGY 2005;128:S74–S78.
  9. Issues related to gluten-free diet in coeliac disease, Riccardo Troncone, Renata Auricchio and Viviana Granata Department of Pediatrics and European Laboratory for the Investigation of Food-Induced Diseases, University Federico II, Naples, Italy. Department of Pediatrics and European Laboratory for the Investigation of Food-Induced Diseases, University.
  10. Alopecia areata and Coeliac Disease: No Effect of a Gluten-Free Diet on Hair. Growth Maria Teresa Bardellaa Roberta Marinoa Mauro Barbareschib Fernando Bianchib Giovanni Fagliac Paolo Bianchia aIstituto di Scienze Mediche, bIstituto di Scienze Dermatologiche e cIstituto di Scienze Endocrine, IRCCS Ospedale Maggiore, Università di Milano, Italia. Received: August 4, 1999.

14 comentários em “A Doença Celíaca e a Dermatologia

  1. chalana disse:

    Oi Debora. Gostaria de parabenizar pala materia. Amo este site por que tudo que você escreve tem referencias e isto nos deixa mas tranquila e confiante no que você diz. Estou tirando o leite de animal e o glúten da minha vida é dificil, mas aqui neste site me sinto acolhida e firme no meu objetivo. Tudo por uma vida saudável.

    • Amanda disse:

      Ótima matéria ! Amo esse site….aqui me sinto acolhida e compreendida. Apesar de ter somente intolerância a lactose comprovada por exames e a doença celíaca não reagente, não me sinto bem ingerindo o glutén. Conversei com meu gastro mas ele disse que mesmo assim devo comer o glutén…mas cortei por conta própria e estou BEM MELHOR.

  2. Paula disse:

    Olá…descobri que sou celíaca há 6 meses, quando cortei totalmente o glúten da minha alimentação. O fato é que agora, mais precisamente ontem, percebi que estou com uma alopecia na cabela, já do tamanho de uma moeda. Já tive alopécia 3 vezes na minha vida, aos 13, 18 e 23 anos, agora quase 28, ou seja, aprox. a cada 5 anos. Estou tentando relacionar a AA com a DC, mas como se justamente agora não estou ingerindo glúten?

    • Débora disse:

      Oi Paula, sobre isso não posso te ajudar. Meu conselho seria vc procurar uma dermato e também uma nutricionista funcional, elas poderiam te ajudar a descobrir se há ligação ou não no seu caso. Um abraço, Débora.

  3. Ana Caludia disse:

    Olá…muito legal a matéria, mas não é só eliminar o glúten da alimentação né, é preciso usar cosméticos sem ter na composição o glúten, eu ouvi dizer que até em shampoo e cremes pode ter gluten.

    • sabrina disse:

      Olá meu nome é sabrina e tenho a doença celiaca desde criança e fiquei sabendo aos meus 16 anos pq na minha infancia meu nutricionista me liberou e agora eu descubri que eu ainda tenho a doença e consumia muito gluten eu queria saber se vai agravar me ajudem por favor!!

  4. PAMELLA disse:

    Meu cabelo estava caindo de tufos antes de eu descobrir a intolerância ao glúten. Há quatro meses retirei o glúten da minha alimentação, meu cabelo voltou a nascer de montão, está começando a ficar mais espesso, menos ressecado. É muito bom voltar a ver meu cabelo mais saudável!!!

  5. Vanessa disse:

    Tenho alopecia areata, faço tratamento tradicional há alguns anos, também realizei exames para saber sobre a alergia a alguns alimentos, tomei conhecimento que tenho intolerância a lactose. Com isso, fui percebendo o efeito sobre meu cabelo. Foi nítido que quando como alguma coisa que contenha traços de leite, meu cabelo cai assustadoramente, mesmo tomando remédios. Essa relação entre a alopecia e intolerância a lactose já foi estudada?

    • Débora disse:

      Oi Vanessa, eu não saberia te informar. Você pode entrar em contato com a Dra. Anaflávia através do site dela que está no fim do artigo. Quem sabe ela não pode te ajudar? Um abração…

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